sábado, 18 de junho de 2011

Tomboy

Panda Bear (aka Noah Lennox) faz parte de um dos grupos experimentais mais falados dos últimos tempos, os Animal Collective. No entanto, Bear (tal como os outros membros da banda) não se limita só ao trabalho no colectivo, tendo também uma carreira a solo, onde, tal como nos Animal Collective, envereda pela via do Experimental Pop. O seu quarto disco, “Tomboy”, é a sua mais recente obra, e saiu a 12 de Abril deste ano, sendo o sucessor de “Person Pitch” (2007), uma obra vastamente aclamada pela crítica. Na review de hoje, vou analisar “Tomboy”, um disco que foi gravado em Lisboa (para quem não sabe, Lennox mora na capital tuga). Ora comecemos.

Começo por confessar que, dos trabalhos a solo dos membros dos Animal Collective, pouco conheço. Apesar de ser fã da banda, e de já ter algum conhecimento das obras deles enquanto grupo, dos trabalhos individuais, só “Person Pitch” me entrou nos ouvidos antes de fazer esta review. E devo dizer, o terceiro LP de Panda Bear foi um disco que me deixou (não utilizo este termo com muita frequência) assombrado pela genialidade do músico americano. Fiquei, portanto, com grandes expectativas para este disco, que foram ampliadas também pelo belíssimo disco de 2009 dos Animal Collective, “Merriweather Post Pavilion”, e pelo hype incrível que este disco teve desde que o primeiro single, “Tomboy”, foi lançado, em Julho do ano passado. Escusado será dizer, eu estava ansioso por poder ouvir este disco, e poder dizer de minha justiça. E, infelizmente, não tenho coisas boas para dizer acerca deste LP.

Começo por falar daquilo que menos me agradou neste disco. Para começar, o uso extensivo da repetição, que tornou a maioria das faixas aborrecidas. Não que eu tenha algo contra a repetição de ritmos, ou de loops de batidas, mas neste álbum, não é a isso que assistimos. O que vemos em “Tomboy” é, na maioria das canções, a uma repetição exaustiva de versos, ritmos, efeitos, batidas e sons no geral, que fez com que o disco me parecesse extremamente repetitivo e pouco apelativo. É certo que tanto “Person Pitch” como “Merriweather Post Pavilion” também tinham uma forte componente de looping e de repetição, no entanto, a diferença entre essas obras e este “Tomboy” é que, enquanto que nesses LPs tínhamos essa repetição a “servir” a canção, estabelecendo um ambiente ou marcando o ritmo, enquanto que outros sons se desenvolviam e variavam, aqui assistimos apenas a uma repetir quase enjoativo de todo o som na maioria das canções. Também não apreciei os efeitos de voz na maioria das músicas. Mais uma vez, estes não são novos na obra de Panda Bear, mas enquanto que nas obras anteriores esses efeitos traziam alguma “frescura” ao som, aqui retiram-lhe a graça, fazendo com que os vocais se tornem por vezes demasiado “espessos” para o meu gosto. Isso, aliado à sonoridade (a meu ver) demasiado homogénea, fez com que o disco fosse pouco proveitoso de ouvir no geral. Entre as canções que foram totalmente abomináveis para mim (e não estou a usar este termo de ânimo leve), contam-se a faixa de abertura “You Can Count On Me”, “Drone” e “Scheherazade”. No resto do disco, tirando alguns “pontos luminosos”, tudo soa a repetitivo e vazio.

Contudo, também existem aspectos positivos, a começar na atitude de Panda Bear. Eu admiro muito a postura de Bear, de não se querer repetir, reinventado-se a cada álbum que grava. Isso é certamente uma característica louvável, e que prezo muito. Estou certo que, apesar de o som não me agradar, ele soa desta maneira porque assim foi planeado por Noah Lennox. Mas falando da sonoridade, devo reconhecer que, neste álbum estão patentes algumas boas ideias. Não fosse a malfadada repetição incessante, e talvez “Last Night at the Jetty” ou “Slow Motion” pudessem ter sido boas músicas. Falando em boas músicas, existe neste disco um trio de faixas que realmente brilham, e contrastam com o resto do disco. Falo do primeiro single retirado do álbum, “Tomboy” (um som de sintetizador hipnotizante), “Alsatian Darn” (uma canção de uma leveza encantadora) e “Afterburner” (uma sonoridade muito tropical, e que varia na “pintura” que vai pintando com o som). Essas três canções são, para mim, bastante boas, mas infelizmente não conseguem puxar o disco para um outro patamar de qualidade, pois vêem-se “afogadas” pelas outras peças, a meu ver de muito menor qualidade.

Resumindo, fiquei bastante surpreendido de não ter gostado deste disco, pois tenho grande estima pelo trabalho de Panda Bear, tanto a solo como nos Animal Collective. Não creio que “Tomboy” seja um sucessor à altura de “Person Pitch”, pois no geral soa a algo muito repetitivo e que falha em ser cativante. No entanto, fico à espera que Panda Bear grave mais qualquer coisa, tanto em grupo como a solo, pois não é por um álbum menos bom que vou deixar de confiar nas suas capacidades enquanto músico. Fica um aviso: se não são fãs de Panda Bear/Animal Collective, esta não é a melhor maneira de se iniciarem na sua obra. Se ouvirem, estão por vossa conta e risco!

Nota Final: 4,0/10

(PS: fica aqui o aviso, o MDC tem uma nova poll, caso não tenham reparado. Se puderem/quiserem, façam favor de votar no festival -ou festivais- a que pretendem ir neste Verão. Ficaria muito agradecido)

João Morais

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