quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Open Your Heart

Formados em 2008 em Brooklyn, capital oficiosa da música independente, os The Men são um dos nomes mais promissores da música alternativa norte-americana, algo que se deverá ao facto de terem animado meio mundo com o seu Alternative Rock com laivos de Punk, Noise e Post-Hardcore, entre outros géneros. Depois da tímida estreia com Immaculada (LP de 2010 de tiragem inicial limitada a 500 exemplares) e do seu sucessor, Leave Home (2011), o grupo lançou, a 6 de Março, Open Your Heart, disco de que vamos falar hoje.

Como já tive oportunidade de referir em ocasiões anteriores, uma das minhas (poucas) labels de estimação é, sem dúvida, a Sacred Bones Records, instituição Indie nova-iorquina em que confio quase cegamente e que tem no seu “plantel” um rol de artistas e bandas mui respeitável e interessante. Foi por isso mesmo que, ainda na (já) longínqua Primavera deste ano, tive a felicidade de “descobrir” os The Men e o seu terceiro álbum, uma das mais sólidas obras de 2012.

Para quem teve a oportunidade de ouvir em antemão Immaculada e Leave Home fica aqui o aviso: se estão à espera de encontrar em Open Your Heart o mesmo Noise Rock monolítico e pouco limado e não estão dispostos a conceder ao grupo espaço para variações e mudanças, este disco não é para vocês. Ao terceiro álbum, os The Men dão um passo de gigante na direcção duma sonoridade mais “aberta” e experimental, que junta ao Alternative Rock do quarteto sonoridades e inspirações vindas de géneros como o Surf Rock (no delay e reverb esporadicamente usados), Country (nas guitarras acústicas solarengas e campestres), Blues (em alguns versos de guitarra mais tradicionais e na parca utilização da lap steel guitar) e até Doo-Wop (nos raros coros femininos e nos riffs mais gingões).

A estas alterações estilísticas junta-se também uma mudança clara nas opções estéticas; apesar de os The Men ainda manterem uma forte componente Noise na maioria das suas composições e de estas ainda serem acima de tudo bastante sujas e cruas, a verdade é que também se nota um esforço na produção para fazer com que a sonoridade se torne mais acessível. Isso é notório na forma como o grupo alia a abrasividade da distorção com melodias e estruturas mais pop, algo que faz lembrar de certa forma os trabalhos de grupos como The Replacements, Hüsker Dü ou Yo La Tengo.

Ao nível das vozes, também é notório um “apaziguamento” dos ânimos dos vocalistas Mark Perro e Nick Chiericozzi. Apesar de ainda ser possível sentir algum angst na entrega vocal dos dois artistas, este está muito mais sublimado quando comparado com os gritos e vociferações presentes em muitas das faixas de Immaculada e Leave Home. Este refrear de emoções também é acompanhado no departamento lírico, onde os temas acabam por ser muito mais intimistas, dóceis e despreocupados do que nos discos anteriores.

No entanto, aquelas que são as maiores qualidades de Open Your Heart acabam por ser, de certa forma, os seus maiores defeitos: no “reverso da medalha” da heterogenia em larga escala está uma certa sensação de desalinho e de falta de balanço; a opção por uma via mais experimental e variada acaba por comportar também, infelizmente, uma certa perda de identidade pessoal; e o grande recurso a elementos estilísticos inspirados num revivalismo da sonoridade de outros grupos faz com que, em alguns momentos, os The Men acabem por ser um pouco derivativos demais. No entanto, a verdade é que estas imperfeições, no fim de contas, acabam por não retirar ao grupo o mérito deste belo disco.

Quanto aos destaques individuais deste Open Your Heart, sublinho a encorpada Oscillation, a veloz Please Don’t Go Away, a sincera Open Your Heart, a corrosiva Cube e a desarmante Ex-Dreams como os pontos mais positivos deste álbum. Pelo contrário, já a desinspirada Presence e a descabida Country Song aparecem, a meu ver, como as únicas faixas remotamente dispensáveis de todo este LP.

Em resumo, com este Open Your Heart os norte-americanos The Men demonstram, de forma quase paradoxal, uma maior maturidade na experimentação aliada a uma maior despreocupação com a estrutura e a coesão do disco. Filtrando inspirações de vários nomes já mencionados (e aos quais podemos facilmente juntar outros como Buzzcocks, Sonic Youth ou The Jesus Lizard), o grupo acaba por criar uma “manta de retalhos” bem variada e difícil de categorizar. É certo que este registo também tem as suas falhas e os seus momentos menos positivos, mas uma coisa é certa: Open Your Heart é a prova segura de que os The Men fazem aquilo que lhes dá na real gana. E nós estamos cá para os ouvir.

Nota Final: 8.6/10

João Morais

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